quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Emily Dickinson V



Poema 1100


A Noite que a levou
Era uma Noite Comum
Tirando a Morte — isso mudou
O Mundo à Nossa volta

Visíveis as mais ínfimas
Coisas antes ocultas
Pela luz sobre as nossas Mentes
Como direi — grifadas.

Numa roda viva entre
O Seu último Quarto
E os Daqueles que estarão vivos
Amanhã, o Remorso

Por Outros existirem
E Ela ter de partir
Uma Inveja quase infinita
Ela em nós despertou —

A agonia aguardámos —
Foi um piscar de olhos —
Oclusos não dissemos nada —
Logo veio a notícia.

O que disse, olvidou —
E, leve como um Junco
À flor do Lago, sem dar luta —
À morte se entregou —

Alisado o Cabelo — 
O Ar lhe compusemos —
Então terrível ócio foi
A fé recalibrar — 

(1866)


*

The last Night that She lived
It was a Common Night
Except the Dying — this to Us
Made Nature different

We noticed smallest things —
Things overlooked before
By this great light upon our Minds
Italicized — as 'twere.

As We went out and in
Between Her final Room
And Rooms where Those to be alive
Tomorrow were, a Blame

That Others could exist
While She must finish quite
A Jealousy for Her arose
So nearly Infinite —

We waited while She passed —
It was a narrow time —
Too jostled were Our Souls to Speak —
At length the notice came.

She mentioned, and forgot —
Then lightly as a Reed
Bent to the Water, struggled scarce —
Consented, and was dead —

And We — We placed the Hair —
And drew the Head erect —
And then an awful leisure was
Belief to regulate —

terça-feira, 24 de novembro de 2020

domingo, 19 de julho de 2020

terça-feira, 14 de julho de 2020

sexta-feira, 29 de maio de 2020

As Flores do Mal


Disponível em: https://relogiodagua.pt/produto/as-flores-do-mal-2/ e a chegar às livrarias: As Flores do Mal, de Charles Baudelaire (trad. de João Moita)

«A edição que agora se apresenta contém todos os poemas da segunda edição de As Flores do Mal, de 1861, seguida dos 6 poemas condenados e dos 24 acrescentos à terceira edição, excluindo a tradução de Longfellow. É, por isso, a mais completa edição em Portugal da obra poética de Charles Baudelaire, depois do esforço sumamente meritório de Fernando Pinto de Amaral (que incluía apenas a segunda edição e os poemas condenados) e das inspiradas derivas de Maria Gabriela Llansol (que incluía a segunda edição, os poemas condenados e apenas os poemas acrescentados à terceira edição que não constavam de Épaves). Há também registo de uma edição parcial da obra, publicada em 1909 e traduzida por Delfim Guimarães, que não pude consultar.
Acrescentou-se ainda em Apêndice, a título de curiosidade, os projetos de prefácios que Baudelaire redigiu para a segunda e uma eventual terceira edição da obra, e que nunca chegou a publicar, bem como as notas que grafou para o seu advogado aquando do processo judicial que levou à condenação do livro.
Caberia aqui, como é apanágio nestas ocasiões, socorrer-me do clássico recurso retórico de captatio benevolentiæ, no qual o tradutor chama a atenção do benevolente leitor para as necessárias fragilidades que um exercício desta natureza sempre comporta, ao mesmo tempo que expõe o método que em teoria terá usado, mas que na prática não conseguiu aplicar mais do que uma ou duas vezes, as necessárias para dele poder extrair um ou dois exemplos. Eximo-me a esse esforço, deixando ao leitor, que se espera implacável e ferino, a tarefa de escrutinar os méritos que a tradução possa ter ou de lhe apontar os defeitos. Deixo apenas a ressalva de que se respeitou escrupulosamente a métrica baudelairiana, salvo não mais do que um punhado disperso de exceções. As notas quiseram-se tão escassas quanto possível.
Quanto ao mais, a beleza que há no mal torna-se seguramente mais incisiva se não a embotarmos com explicações redundantes.

João Moita»

[Da Nota do Tradutor]

 

terça-feira, 26 de maio de 2020

A Pandemia que Abalou o Mundo



Disponível em: https://relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: «A Pandemia Que Abalou o Mundo», de Slavoj Žižek (trad. de João Moita)

«Nenhum coronavírus nos pode tirar isto. Há, pois, esperança de que o distanciamento físico venha inclusivamente a reforçar a intensidade do elo que nos liga aos outros. Só agora, que tenho de evitar muitos daqueles que me são próximos, é que sinto plenamente a sua presença, a importância que têm para mim.
Aqui chegados, já estou a ouvir uma gargalhada cínica: está bem, talvez experienciemos esses momentos de proximidade espiritual, mas como é que isso nos vai ajudar a lidar com a catástrofe atual? Tiraremos daí alguma lição?»

[Da Introdução]

domingo, 17 de maio de 2020

segunda-feira, 30 de março de 2020

domingo, 29 de março de 2020

John Keats (I)



Quando me assalta o medo de morrer
   Antes de a mente em escrita verter,
E de deixar, redonda, em cartapácios,
   Como em silos, a madura semente;
Quando no rosto da noite diviso
   Turvos símbolos de um nobre romance,
Sem que para as suas sombras traçar,
   Num rasgo de sorte, a vida me sobre;
E quando sinto, ser belo e fugaz,
   Que admirar-te não mais me será dado,
Nem me comprazer no excelso poder
   Do incauto amor! – Então, do vasto mundo
Me afastando, ponho-me a meditar
Até Fama e Amor no nada afundar.


John Keats, 1818. 


*

When I have fears that I may cease to be
   Before my pen has gleaned my teeming brain,
Before high-pilèd books, in charactery,
   Hold like rich garners the full ripened grain;
When I behold, upon the night’s starred face,
   Huge cloudy symbols of a high romance,
And think that I may never live to trace
   Their shadows with the magic hand of chance;
And when I feel, fair creature of an hour,
   That I shall never look upon thee more,
Never have relish in the faery power
   Of unreflecting love—then on the shore
Of the wide world I stand alone, and think
Till love and fame to nothingness do sink.