segunda-feira, 28 de maio de 2018

Obra Completa de Arthur Rimbaud


A chegar às livrarias e à Feira do Livro de Lisboa: Obra Completa de Arthur Rimbaud (trad. Miguel Serras Pereira e João Moita)
Reúne-se aqui a obra de Arthur Rimbaud.
Excluíram-se apenas os poemas em latim, os exercícios escolares, e algumas cartas comerciais sem interesse.
A parte referente à poesia é bilingue.
Muitos dos poemas são traduzidos pela primeira vez em Portugal. O mesmo acontece com a correspondência literária e a novela «Um Coração debaixo de Uma Sotaina», que é importante para compreender a obra de Rimbaud e é um dos seus raros textos cómicos.
Dos seus poemas em verso e em prosa mais conhecidos, «O Barco Ébrio», Uma Temporada no Inferno e Iluminações, são apresentadas novas traduções.
A aventurosa vida pós-literária de Rimbaud é abordada no prefácio e nas cartas e relatórios que escreveu.

«É habitual falar-se na existência de um mistério na vida de Rimbaud, o precoce abandono da poesia no apogeu da criatividade literária.
Mas essa é apenas a parte visível de um enigma maior que é a ligação entre a sua vida de poeta e a de negociante em Áden e na Abissínia.
A verdade é que a sua última década de vida ilumina com luz retrospectiva a poesia que de outro modo não seria a mesma, tal como não seria a mesma a imagem que hoje temos de Rimbaud se ele tivesse envelhecido nos salões literários de Paris.
Sem esse abandono não teríamos uma noção exacta da autenticidade da sua procura visionária e das experiências e sofrimentos que por causa dela consentiu ou se impôs.
É por isso que a poesia que Rimbaud escreveu parece existir suspensa num tempo de incorruptível juventude.» [Do Prefácio da autoria de Francisco Vale]

sábado, 12 de maio de 2018

Paul Verlaine (I)


PARA ARTHUR RIMBAUD

Mortal, anjo E demónio, ou seja, Rimbaud,
O primeiro lugar neste meu livro mereces,
Apesar do asno pedante que te chamou glabro
Devasso, rebento de monstro, ébrio pupilo.

Espirais de incenso e acordes de alaúde
Tua entrada assinalam no templo da memória
E teu nome radioso cantará na glória,
Porque me amaste como só amar se deve.

Para as mulheres serás mancebo grande e forte,
Muito belo de uma beleza rústica e travessa,
E desejável, de uma indolência escandalosa!

A história esculpiu-te triunfante da morte
E a gozar a vida nos mais puros excessos,
Teus pés brancos assentes na cabeça da Inveja!


Paul Verlaine, Dédicaces, 1894.
- trad. minha


*


A ARTHUR RIMBAUD

Mortel, ange ET démon, autant dire Rimbaud,
Tu mérites la prime place en ce mien livre,
Bien que tel sot grimaud t'ait traité de ribaud
Imberbe et de monstre en herbe et de potache ivre.

Les spirales d'encens et les accords de luth
Signalent ton entrée au temple de mémoire
Et ton nom radieux chantera dans la gloire,
Parce que tu m'aimas ainsi qu'il le fallut.

Les femmes te verront grand jeune homme très fort,
Très beau d'une beauté paysanne et rusée,
Très désirable, d'une indolence qu'osée !

L'histoire t'a sculpté triomphant de la mort
Et jusqu'aux purs excès jouissant de la vie,
Tes pieds blancs posés sur la tête de l'Envie !