Nos envelopes, as cartas que me escreveste são os meus armários de sombra. De alguma maneira, Antonio, ajudam-me a ser humilde e um guardião menos inábil do sorriso da minha mulher. Nada mais peço à amizade.
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
terça-feira, 27 de agosto de 2013
domingo, 25 de agosto de 2013
A floresta de árvores despidas pelo Inverno e a harpa da chuva cadenciam a manhã. Ruge o vento nos umbrais e o gado espera pacientemente sobre a lama. Nos meus ouvidos, porém, só se ouvem, inapeláveis, as bátegas nocturnas de Chopin. Já quase me abismo, ó leveza da aurora, nestes espelhos profundos, nesta chaga extemporânea.
sábado, 24 de agosto de 2013
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Daqui a pouco levantas-te, depois de descansares de uma noite passada a conservar vidas, vens até à sala acesa pelo sol, onde agora escrevo o que não sabes, debruças-te sobre mim, deitado neste sofá com o frio de uma tarde limpa de Inverno, e depositas-me um beijo que agoniza a solidão. Ouço os teus passos, são o eco da escrita.
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
Saint-John Perse (II)
Nocturno
Ei-los maduros, esses frutos de um suspeitoso destino. Pelo nosso sonho gerados, pelo nosso sangue nutridos, e assombrando a púrpura das nossas noites, eles são os frutos da longa inquietação, eles são os frutos do longo desejo, eles foram os nossos mais secretos cúmplices e, tantas vezes à beira da confissão, arrancavam-nos para os seus fins ao abismo das nossas noites… Ao fogo do dia todo favor! ei-los maduros e sob a púrpura, esses frutos de um imperioso destino — Aí não está a nossa vontade.
Sol do ser, traição! Onde foi a fraude, onde foi a ofensa? onde foi a falta e qual é a tara, e o erro, qual foi ele? Retomaremos o tema desde a sua origem? reviveremos a febre e o tormento?… Majestade da rosa, não nos causas grande admiração: o nosso sangue prefere o que é mais amargo, os nossos cuidados o que é mais severo, as nossas estradas são pouco seguras, e profunda a noite de onde se extraem os nossos deuses. Rosas caninas e silvas negras povoam para nós as margens do naufrágio.
Ei-los amadurecendo, esses frutos de uma outra margem. «Sol do ser, cobre-me!» — palavra do desertor. E aqueles que o terão visto passar dirão: quem foi este homem, e qual a sua morada? Iria ele sozinho expor ao fogo do dia a púrpura das suas noites?… Sol do ser, Príncipe e Mestre! as nossas obras estão dispersas, os nossos trabalhos sem honra e os nossos trigos sem colheita: a atadeira de feixes espera no declinar da tarde. — Ei-los pintados com o nosso sangue, esses frutos de um suspeitoso destino.
No seu ritmo de atadeira de feixes vai a vida sem ódio nem resgate.
1972.
Saint-John Perse, Chant pour un Équinoxe
- trad. minha
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