sábado, 21 de julho de 2012

Yannis Ritsos (IV e V)

Ela viu o belo ladrão
saltar
pela janela
Desde então
deixa a porta
escancarada
As jóias que sobraram
num lugar visível
Ele nunca regressou

Atenas, 9-5-78


*

Quando inalaste o perfume
de uma rosa
cresceste meio metro
agora não cabes
na porta
a noite veio
arrefeceu
apareceram as estrelas
os lobos vieram

Atenas, 29-2-80


Yannis Ritsos
- trad. minha a partir da versão em inglês de Manolis

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Yannis Ritsos (III)

Assassinos Fictícios

Esta mulher – nem sequer sei como se chama – Catarina? Eurídice?
Agride-me roça a faca pelo meu pescoço
Sei que é uma faca de papel
Finjo estar morto entreabro os olhos
Vejo melhor assim
De noite levanto-me vou à loja do ferreiro com as suas ratazanas
Acendo a fogueira atiço-a com os grandes foles da igreja
Preparo as quatro ferraduras o cálice fundo
Afio a grande faca de dois gumes e entrego-lha

Em mãos secretamente voluptuosamente por baixo da almofada 

Atenas,  4-5-71

Yannis Ritsos
- trad. minha a partir da versão em inglês de Manolis

terça-feira, 17 de julho de 2012

Yannis Ritsos (II)

Consequências Desconhecidas 

Durante anos e anos ele ansiou ele despiu-se
diante de grandes e pequenos espelhos
diante de cada janela ele ensaiou cuidadosamente
uma e outra pose tentando decidir-se inventar
aquela que lhe fosse mais natural para que ele se tornasse
a estátua perfeita de si mesmo – ainda que soubesse
que as estátuas são frequentemente feitas
para os mortos e ainda mais frequentemente
para algum deus irreal e desconhecido 


Atenas, 17-3-71

Yannis Ritsos
- trad. minha a partir da versão em inglês de Manolis