Había
vértigo y luz en las arterias del relámpago,
fuego, semillas y una germinación desesperada.
Yo desgarraba la imposibilidad,
oía silbar a la máquina del llanto y me perdía en la espesura vaginal. También
entraba en urnas policiales. Así
olvidaba los ojos de mi madre.
Vivía
Parece ser.
Vivía.
Ahora mismo atiendo distraído a mi estertor. No hay en mí memoria ni olvido; única y simplemente lucidez.
Han desaparecido los significados y nada estorba ya a la indiferencia.
Definitivamente, me he sentado
a esperar a la muerte
como quien espera noticias ya sabidas.
*
Havia
vertigem e luz nas artérias do relâmpago,
fogo, sementes e uma germinação desesperada.
Eu rasgava a impossibilidade,
ouvia assobiar a máquina do pranto e perdia-me na espessura vaginal. Entrava
também nas urnas policiais. Esquecia
assim os olhos da minha mãe.
Vivia.
Acho que sim.
Vivia.
Agora mesmo observo distraído o meu estertor. Não há em mim memória nem esquecimento: unica e simplesmente lucidez.
Desapareceram os significados e nada estorva já a indiferença.
Definitivamente, sentei-me
à espera da morte
como quem espera notícias já sabidas.
Antonio Gamoneda,
poema de Canción Errónea, 2012.
- trad. minha
domingo, 21 de outubro de 2012
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Antonio Gamoneda, nova série, I
Huyes de ti para alcanzar verdades que no existieron nunca.
Hablas de un ave que atravesó tus sueños. Te engañas: tú, aun no siendo, eres su única realidad.
“La rosa es bella, ¿y para qué?”
Así son las preguntas prendidas de tus labios; las grandes, las inútiles preguntas.
“Ignorar para ver”, dices también.
Pero ¿qué ver? Tan sólo lograrás que la luz arda en tus ojos. Compréndelo:
no existe más que una palabra verdadera:
no.
*
Foges de ti para alcançar verdades que nunca existiram.
Falas de uma ave que atravessou os teus sonhos. Enganas-te: tu, ainda que não sendo, és a sua única realidade.
“A rosa é bela, e para quê?”
Assim são as perguntas suspensas dos teus lábios; as grandes, as inúteis perguntas.
“Ignorar para ver”, dizes também.
Mas, ver o quê? Conseguirás apenas que a luz arda nos teus olhos.
Compreende:
Só existe uma palavra verdadeira:
não.
Antonio Gamoneda,
de Canción Errónea, 2012.
- trad. minha
Hablas de un ave que atravesó tus sueños. Te engañas: tú, aun no siendo, eres su única realidad.
“La rosa es bella, ¿y para qué?”
Así son las preguntas prendidas de tus labios; las grandes, las inútiles preguntas.
“Ignorar para ver”, dices también.
Pero ¿qué ver? Tan sólo lograrás que la luz arda en tus ojos. Compréndelo:
no existe más que una palabra verdadera:
no.
*
Foges de ti para alcançar verdades que nunca existiram.
Falas de uma ave que atravessou os teus sonhos. Enganas-te: tu, ainda que não sendo, és a sua única realidade.
“A rosa é bela, e para quê?”
Assim são as perguntas suspensas dos teus lábios; as grandes, as inúteis perguntas.
“Ignorar para ver”, dizes também.
Mas, ver o quê? Conseguirás apenas que a luz arda nos teus olhos.
Compreende:
Só existe uma palavra verdadeira:
não.
Antonio Gamoneda,
de Canción Errónea, 2012.
- trad. minha
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