Judas, invejo a tua figueira e o teu mau nome. Invejo os vitupérios que te lançam e te enchem de uma saliva tão quente e tão humana, dessa humanidade que já nem cuidamos desprezar. Invejo o bafo das feras que te cobiçam a carne e cuja fome também conheci e nunca soube saciar. Invejo os escarros que te untam o cabelo para gáudio das varejeiras que ali se vêm acoitar. E invejo sobretudo o teu pecúlio: as tuas trinta moedas. Trinta moedas de ouro, de prata, de cobre ou de latão, qualquer metal corruptível que me sobrevivesse. Com elas, compraria o seu último beijo. E mais ninguém depois de mim o beijaria.