sábado, 7 de setembro de 2024

As Flores do Mal

 


Também fucei nas suas grandes corolas, cativo da virulência do seu néctar. E quanto mais fundo fuçava, quanto mais fundo escavava, mais o seu segredo se ocultava por trás da seiva cada vez mais abundante, cada vez mais espessa, que o seu âmago inviolado segregava — inundando-me o rosto, escorrendo-me pelo queixo, entorpecendo-me os lábios e dispondo-me a procurar no crime a pacificação. As suas pétalas não têm viço, nenhum sol as enrubesceu. A elas imolou a beleza todas as suas virtudes, e todas as fogueiras só aspiram à sua carne incombustível. Não têm espinhos, mas se as tentas colher, enredam-se umas nas outras, misturam os seus sabores e revelam-se os segredos que te recusaram, enquanto tu, excluído de tão angustiante liturgia, privado de tão aflitivo repasto, paralisado diante de tão impenetrável floresta, seguras com as forças que te restam a gadanha impotente, que viras contra ti.

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