Os ingénuosOs tacões lutavam com os longos vestidos,De maneira que, conforme o terreno e o vento,Luziam por vezes uns tornozelos, logoInterceptados! – Mas que adorável tormento.Outras, o ferrão de algum insecto invejosoPicava o pescoço das belas sob os ramos,E era então súbitos clarões de nucas brancas,Um regalo pròs nossos olhos delirantes.Declinava uma equívoca noite de Outono:Sonhadoras, apoiadas nos nossos braços,Sussurravam-nos coisas tão especiosasQue ainda hoje as nossas almas se incendeiam.
*
Les ingénusLes hauts talons luttaient avec les longues jupes,En sorte que, selon le terrain et le vent,Parfois luisaient des bas de jambe, trop souventInterceptés ! – et nous aimions ce jeu de dupes.Parfois aussi le dard d’un insecte jalouxInquiétait le col des belles sous les branches,Et c’était des éclairs soudains de nuques blanchesEt ce régal comblait nos jeunes yeux de fous.Le soir tombait, un soir équivoque d’automne :Les belles, se pendant rêveuses à nos bras,Dirent alors des mots si spécieux, tout bas,Que notre âme depuis ce temps tremble et s’étonne.
Paul Verlaine, Fêtes galantes, 1869 [Festas Galantes, ilust. George Barbier, trad. João Moita, Guerra & Paz Editores, 2022]
Sem comentários:
Enviar um comentário