domingo, 19 de julho de 2020

Alpiarça, 17/07/2020



1 comentário:

João-Maria disse...

Que bonito. Leria livros inteiros neste estilo hiperestésico. Fico com parestesias nas pontas dos meus dedos internos, quase. É imperfectível. Embora não seja da Charneca do Ribatejo, sou da média-extremadura, um saloio. Há um frémito bruxuleante qualquer aqui na zona. Uma luz insofismável e autotélica. Eu tinha por costume esconder-me nas paliçadas das canas à espera dum casal de galinhas-d'água que lá havia aninhado. Recordo-me, ainda, de torcer canas para pescar as madeixas de limo, que vinham sempre cheias de pequenos girinos.

Crescer solitário nestes sítios vem sempre com uma melodia de extinção irreproduzível. Os silêncios, quase sempre longos, quase sempre chumbados, são feitos de materiais paracósmicos. Mundos que vão morrendo dentro de nós; coisas metíficas. Acho que só agora, a meio dos vinte, é que vou catalogando as carcassas, descobrindo dores e sítios novos onde as colocar.

Gosto muito dos teus livros, João. E fico contente por existir, agora, este outro sítio onde gostar de ti. Espero um dia poder estudar-te com uma arquitectura interna mais limpa, e espero não ter imiscuído.