sábado, 31 de maio de 2025

Escrever

Tão difícil escrever. As palavras vêm a conta-gotas, represadas. Como uma ampulheta de mil grãos de areia destinada a contabilizar a eternidade. Depois, um grão maior entope o mecanismo. Não quer sair. Agito, rodo, viro e reviro a ampulheta, mas o grão não sai. Os outros acumulam-se atrás, aguardam a sua vez, hesitam em adiantar-se, misturam-se, saem da ordem. Então pouso a ampulheta e desisto de medir o tempo. Por falta de tempo. — Pudesse abrir as comportas, deixar sair tudo de roldão e tudo estar certo e no seu devido lugar! Então ainda haveria tempo.

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