domingo, 29 de março de 2020

John Keats (I)



Quando me assalta o medo de morrer
   Antes de a mente em escrita verter,
E de deixar, redonda, em cartapácios,
   Como em silos, a madura semente;
Quando no rosto da noite diviso
   Turvos símbolos de um nobre romance,
Sem que para as suas sombras traçar,
   Num rasgo de sorte, a vida me sobre;
E quando sinto, ser belo e fugaz,
   Que admirar-te não mais me será dado,
Nem me comprazer no excelso poder
   Do incauto amor! – Então, do vasto mundo
Me afastando, ponho-me a meditar
Até Fama e Amor no nada afundar.


John Keats, 1818. 


*

When I have fears that I may cease to be
   Before my pen has gleaned my teeming brain,
Before high-pilèd books, in charactery,
   Hold like rich garners the full ripened grain;
When I behold, upon the night’s starred face,
   Huge cloudy symbols of a high romance,
And think that I may never live to trace
   Their shadows with the magic hand of chance;
And when I feel, fair creature of an hour,
   That I shall never look upon thee more,
Never have relish in the faery power
   Of unreflecting love—then on the shore
Of the wide world I stand alone, and think
Till love and fame to nothingness do sink.

Sem comentários: