O amor, o amor
Num cinema
porno, reformados ofegantes
Contemplavam,
sem poderem acreditar,
As
brincadeiras mal filmadas de dois casais lascivos;
Não havia
argumento.
Aqui está,
dizia para comigo, o rosto do amor,
O autêntico
rosto.
Alguns são
sedutores; esses seduzem sempre,
Os outros
sobrenadam.
Não há
destino nem fidelidade,
Mas corpos
que se atraem.
Sem afecto
e, sobretudo, sem piedade,
Joga-se e
dilacera-se.
Alguns são
sedutores, partindo muito amados;
Esses
conhecerão o orgasmo.
Mas muitos
estão lassos e nada têm a esconder,
Nem sequer
os fantasmas;
Apenas uma
solidão agravada pela alegria
Impúdica das
mulheres;
Apenas uma
certeza: «Isto não é para mim»,
Um pequeno
drama obscuro.
Morrerão, é
certo, um pouco decepcionados,
Sem ilusões
líricas;
Praticarão a
fundo a arte de se desprezarem;
Será
mecânico.
Dirijo-me a
todos os que nunca foram amados,
Aos que
nunca souberam satisfazer-se;
Dirijo-me
aos excluídos do sexo liberto,
Do prazer
comum.
Nada temais,
amigos, a vossa perda é mínima:
O amor não
existe em lado nenhum.
É apenas um
jogo cruel e vós as suas vítimas;
Um jogo de especialistas.
Michel Houellebecq, La Porsuite du Bonheur, 1997.
Tradução de João Moita
*
L’amour, l’amour
Dans
un ciné porno, des retraités poussifs
Contemplaient,
sans y croire,
Les
ébats mal filmés de deux couples lascifs ;
Il
n'y avait pas d'histoire.
Et
voilà, me disais-je, le visage de l'amour,
L'authentique
visage.
Certains
sont séduisants ; ils séduisent toujours,
Et
les autres surnagent.
Il
n'y a pas de destin ni de fidélité,
Mais
des corps qui s'attirent.
Sans
nul attachement et surtout sans pitié,
On
joue et on déchire.
Certains
sont séduisants et partant très aimés ;
Ils
connaîtront l'orgasme.
Mais
tant d'autres sont las et n'ont rien à cacher,
Même
plus de fantasmes ;
Juste
une solitude aggravée par la joie
Impudique
des femmes ;
Juste
une certitude : « Cela n'est pas pour moi »,
Un
obscur petit drame.
Ils
mourront c'est certain un peu désabusés,
Sans
illusions lyriques ;
Ils
pratiqueront à fond l'art de se mépriser ;
Ce
sera mécanique.
Je
m'adresse à tous ceux qu'on n'a jamais aimés,
Qui
n'ont jamais su plaire ;
Je
m'adresse aux absents du sexe libéré,
Du
plaisir ordinaire.
Ne
craignez rien, amis, votre perte est minime :
Nul
part l'amour n'existe.
C'est
juste un jeu cruel dont vous êtes les victimes ;
Un
jeu de spécialistes.
Michel
Houellebecq, La Porsuite du Bonheur, 1997.
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