Saiu
o terceiro Caderno da Enfermaria 6, no qual participo com o ensaio em
torno de Vergílio Ferreira e Antonio Gamoneda que em baixo reproduzo:
[Enfermaria 6, Lisboa, Abril de 2015, 108 pp.
8€
Uma versão digital deste livro ficará disponível a 11 de Maio.
Uma versão impressa deste livro pode ser comprada na Fyodor Books ou enviando-nos a sua encomenda para enfermariaseis@gmail.com.
Autores
André Domingues | Bruno Sousa Villar | Catarina Santiago Costa | César Rina | Daniel Francoy | Dirceu Villa | Ernesto von Artixzffski | Filipe Teles | Frederico Pedreira | Gonçalo Mira | Ismar Tirelli Neto | João Bosco da Silva | Júlia de Carvalho Hansen | Luís Quintais | Maria Sousa | Makki Ahtisaari | Marco Mackaaij | Miguel Cardoso | Nuno Brito | Otávio Campos | Patrícia Lino | Pedro Braga Falcão | Pedro Mexia | Raquel Nobre Guerra | Ricardo Domeneck | Rui Almeida | Susana Araújo | Vasco Macedo | Victor Heringer | João Moita | Manuel A. Domingos | Helena Bento & Rui Pedro Gonçalves | Cassandra Jordão & Hugo Milhanas Machado
André Domingues | Bruno Sousa Villar | Catarina Santiago Costa | César Rina | Daniel Francoy | Dirceu Villa | Ernesto von Artixzffski | Filipe Teles | Frederico Pedreira | Gonçalo Mira | Ismar Tirelli Neto | João Bosco da Silva | Júlia de Carvalho Hansen | Luís Quintais | Maria Sousa | Makki Ahtisaari | Marco Mackaaij | Miguel Cardoso | Nuno Brito | Otávio Campos | Patrícia Lino | Pedro Braga Falcão | Pedro Mexia | Raquel Nobre Guerra | Ricardo Domeneck | Rui Almeida | Susana Araújo | Vasco Macedo | Victor Heringer | João Moita | Manuel A. Domingos | Helena Bento & Rui Pedro Gonçalves | Cassandra Jordão & Hugo Milhanas Machado
Capa
João Alves Ferreira
João Alves Ferreira
A
Enfermaria 6 é uma plataforma editorial sem fins lucrativos. Todo o
dinheiro resultante da venda dos exemplares será usado para financiar
futuras publicações.]
Poesia diante do espelho da morte:
em torno de algumas ideias de Antonio
Gamoneda e de Vergílio Ferreira,
João Moita
La poesía no sería posible
– no existiría –
si no supiésemos que vamos a morir.
Antonio Gamoneda, El lugar de la reunión
O terror da
morte nasce com o balanço do que se perde.
Vergílio Ferreira, Invocação ao meu corpo
É sobejamente conhecida a frase
de André Malraux, retirada do romance L’Espoir,
na qual o autor francês diz mais ou menos o seguinte: é a morte que transforma a
vida em destino. Com efeito, uma vida eterna seria uma vida que
constantemente se adiaria, uma vida inconclusa, um perpétuo devir que deixaria em
permanente suspensão o significado último dos nossos actos. Apurar as
consequências das nossas decisões seria tarefa vã: elas jamais deixariam de se
actualizar e de se reproduzir. À sua frente estaria o infinito, a totalidade em
potência, um horizonte de expectativas tão amplo que seria legítimo que cada um
pensasse a cada momento que a sua vida até então tinha sido apenas preparação
para uma nova vida que então começasse. Todos os nossos gestos se esvaziariam
sem intenção derradeira que os sancionasse, e a memória seria ferida por
cauterizar, ilegível cicatriz. Seria então – e não antes – que o homem estaria
verdadeiramente condenado à sua liberdade.
É a morte, ou antes, é a consciência
que temos de que vamos morrer, que põe a vida em perspectiva. É ela que a
circunscreve e lhe dá unidade, e é através dessa consciência que ela adquire
sentido, ou seja, que se apreende a si mesma como destino. Em suma, é porque
morremos que nos sentimos viver.
Mas entre viver e sentirmo-nos viver há uma brecha que se abre, um espaço
intermédio, desconhecido dos animais, por onde o fluxo vital que nos anima se
escoa e se projecta para fora de si como uma espécie de excesso ou de saldo da
nossa vida. A percepção do excesso que nos constitui é o que nos dá a consciência
que temos de nós mesmos, e é através dela que começamos a ex-istir, isto é, a conceber-nos como projecto ontológico que
extravasa a mera observância dos processos biológicos que garantem a nossa
sobrevivência.
Esta brecha que se abre entre as limitações fisiológicas e o anúncio de
um mais ilimitado para preencher configura
o domínio daquilo a que Vergílio Ferreira convencionou chamar interrogação,
noção que opunha à noção mais rasa de pergunta. Para ele, «uma pergunta não
interroga: uma pergunta diz a
resposta. Porque uma pergunta está do lado do problema a resolver, do ainda
simplesmente desconhecido; e a interrogação está do lado do insondável. A
pergunta desenvolve-se na clara horizontalidade;
a interrogação, na obscura verticalidade.
Como em jogo de cabra-cega, em que há seres à nossa volta, a pergunta
orienta-se entre os que lhe não pertencem até achar o que procura. Mas a
interrogação não encontra, porque nada há para achar»[1].
Uma interrogação, segundo Vergílio Ferreira, não espera resposta, isto é, não sabe a resposta. Uma interrogação
lança-se sobre o abismo não para reivindicar uma solução, mas para preencher
essa brecha entre o vivermos e o sentirmo-nos viver-para-a-morte com um apelo
que parte de nós e se estende até ao intangível onde embate com a violência de
uma inquietação.
A interrogação nada sabe porque ela é, como a poesia para Antonio
Gamoneda, «antes sensible que inteligible»[2],
tem mais a ver com a nossa existência do que com a nossa inteligência, com a
nossa sensibilidade do que com o nosso entendimento, com a inacessibilidade da
nossa subjectividade do que com a objectividade concreta das coisas que nos
rodeiam e nos são dadas a conhecer. Ou melhor ainda, a interrogação, como a
poesia para Antonio Gamoneda, apresenta-se sob a forma de um não saber sabendo, para usar a fórmula
plasmada por São João da Cruz que Gamoneda costuma invocar em entrevistas, uma
douta ignorância que se assombra mais do que se esclarece ao desvelar a
sabedoria inarticulável do espanto.
Vemos, pois, que é a nossa
condição de seres mortais – somos os únicos seres mortais, que para o ser é
preciso disso ter-se prévio conhecimento – que torna possíveis experiências
como aquela que nos é proporcionada pela poesia (mas não é exclusivo da poesia),
durante as quais se processa um como que aprofundamento da vida, ou em termos
gamonedeanos, uma intensificação da vida,
que faz a nossa existência confrontar-se consigo mesma em face daquilo que a
nega, ou seja, a própria morte. Um poema, ou, para o efeito, qualquer emanação
artística autêntica ou qualquer experiência existencial profunda, implica
sempre uma interrogação no sentido vergiliano do termo, ou, para fazermos a
ponte com a frase de Malraux, uma interrogação
ao destino[3].
Creio ser por essa razão que
Gamoneda teima em distinguir as noções de poesia e de literatura. Para ele, uma
e outra não se confundem: «la
literatura es ficción y la poesía realidad, (…). La literatura representa o se
refiere, la poesía crea y revela. Dicho de otra manera: la poesia no imita a la
vida, es una parte de la vida, una emanación de la vida»[4]. Ou
ainda: «En la poesia están nuestro sufrimiento y nuestro gozo; y ese vínculo
vivo entre la poesia y la existencia hace que no sea ficción»[5]. A
ficção não interroga, pergunta. Ela representa e, ao fazê-lo, recria as
condições exteriores a uma escala mais manuseável, possibilitando com essa
redução uma interiorização do objecto externo sobre o qual se debruça. Esse é o
modo de operar não só da literatura (conceito que não exclui muita da poesia
que hoje se escreve), mas, por exemplo, das ciências exactas e das ciências económicas
ou sociais. A poesia, porém, não representa, é ela mesma uma realidade, quer
dizer, ela é a realidade da nossa intimidade, uma extensão da vida, uma
«emanação» do que há de excessivo no nosso sofrimento e no nosso gozo. Ela é,
portanto, uma manifestação subjectiva que não pode ser nunca inteiramente
compreendida a não ser pela pura sensibilidade que interroga a perfeição do
silêncio: «escuché hasta que la verdad dejó de existir en el espacio y en
mi espíritu, / y no pude resistir la perfección del silencio»[6],
diz-nos o poeta numa passagem de Descripción de la mentira.
Em
Antonio Gamoneda, a poesia nasce da escuta atenta do silêncio, mais do que de
uma predisposição ou de uma expansão comunicativa. O que o poema venha a dizer,
Gamoneda só o sabe depois de este se revelar na escrita. O poema aparece quando
a consciência de si se torna permeável à consciência musical primordial que há
em nós[7] para
traduzir, através da linguagem desvinculada da referencialidade convencional, o
ritmo do ser. Esta linguagem desvinculada de referencialidade não é mais do que
linguagem simbólica, isto é, linguagem provida da sua própria realidade, da sua
própria fisicalidade: «los hechos artísticos son necessariamente hechos
sensibles (primariamente existenciales,
por tanto) y […] suponen una física, es decir, un cuerpo: el cuerpo de los
símbolos. Lo cual no es obstáculo sino condición para que, simultáneamente, los
símbolos sean y propogan un realidade intelectual»[8].
Linguagem simbólica, portanto, que comporta em si uma realidade intelectual
irredutível a qualquer exterioridade. Daí que Gamoneda afirme ainda que «en la
poesia, el acto de generación del pensamento va ligado a la aparición del
lenguaje»[9]. Quer
dizer: em poesia, o significado coincide com o significante, o poema concreto não
se distingue da consciência poética de que emana. Ou melhor ainda: o poema
configura a experiência relatada por Vergílio Ferreira no romance que o tornou
famoso da aparição de nós a nós mesmos, quando a atenta escuta do
silêncio em que medra o fulcro da nossa existência cala o ruído que nos rodeia
e faz emergir a harmonia que precede o nosso modo de sermos quotidianos,
psicológicos ou externos a nós mesmos. Esse é, tanto quanto a minha própria
experiência me pôde ensinar, o único sinal inequívoco de que o que sentimos
diante de uma obra de arte constitui uma legítima experiência de fruição estética.
Mas
certamente que as palavras do próprio Vergílio Ferreira nos ajudarão a
compreender melhor do que se trata esta aparição de nós a nós mesmos.
Exorta ele:
«Desce do teu corpo ao teu espírito, desce da tua
vida interior ao centro infinitesimal donde ela procede, onde ela é o
fulgurante início de realizar-se. Colado a ti, identificado com a tua própria
luz, absoluto de ti, então verás brotar essa fulguração indistinta que és tu,
essa pura realidade de estares sendo, essa indiscriminada força de estares vivo
e que nada caracteriza porque nada a define nem pelo que és para ti nem pelo
que és para os outros (…).»[10]
Se
a poesia não nos ajuda a fazer esta descida, se ela não tratar de fazer
regredir a linguagem à música que precede a inteligibilidade do discurso, se
ela não atestar o excesso de uma presença, então talvez a poesia não seja já
bem poesia mas apenas literatura. Eis porque afirmo, talvez de forma abusiva – mas
é um risco que assumo –, que a experiência relatada por Vergílio Ferreira não
diverge muito da experiência que para Antonio Gamoneda está na génese da
criação poética.
Mas
que potencia esta experiência da aparição de nós a nós mesmos senão o terror
que nos toma quando em nós soa o alarme de descobrirmos que aquilo que somos
está condenado à inexistência, para usar uma palavra recorrente na última reunião
de poemas de Antonio Gamoneda? Qual a urgência de nos inteirarmos daquilo que
nos integra, de nos reconhecermos na totalidade do que somos, se precisamente
essa totalidade, isso que nos descobrimos em inteira necessidade, não viesse
marcado com o estigma de extinção? Quando a morte se revela aos nossos olhos
como inescapável evidência, quando nos sentimos soçobrar ao peso de um
invencível destino que saldará todos os nossos actos numa conta sem resto,
então ergue-se em nós o rumor de uma interrogação que tem como limite esse
«muro sem plausibilidade para lá»[11],
esse espelho sem ângulo morto onde projectamos aquilo que vamos entregar à
morte: «toda mi actividad poética se deduce de “la contemplación de mis actos
en el espejo de la muerte”»[12], diz
Antonio Gamoneda em entrevista, citando um verso de Descripción de la
mentira. E Vergílio Ferreira, por sua vez:
«Quem
sou? (…) E desde quando comecei a sê-lo? Deve ser útil sabê-lo, o que é que
está dentro de mim? para ao menos saber o que vou entregar à morte. (…) Fluido
esboço de formas ocas de névoa, vejo-as. Instantâneas imagens do que passou.
Farrapos avulsos de. São coisas que vagas, não consigo integrá-las no tecido
uno de mim – que é que posso dar à morte? São coisas dispersas, mas elas devem
ter formado o que sou que ignoro – o que posso dar à morte?»[13]
«Saber quem morro»[14],
eis uma das grandes obsessões dos dois autores reunidos neste ensaio, obsessão
que nunca deixou de se fazer sentir em Vergílio Ferreira e que Antonio Gamoneda
volta a plasmar na já mencionada colectânea de 2012, Canción Errónea, incitando-se a si próprio e incitando a um tu (o tu na poesia de Antonio Gamoneda é
sempre uma instância problemática[15])
para que este «[Restaure] cada día / [s]u
pacto luminoso con la muerte»[16],
isto é: contempla-te cada dia diante do espelho da morte, repete todos os dias
o movimento de identificação de ti com aquilo que em ti morre, com aquilo que
em ti se consome, com aquilo que em ti vai caminhando para a morte. Em suma:
intensifica através do esquecimento a tua memória.
Em
Gamoneda, memória e esquecimento não se dissociam, uma implica sempre o outro. Diz
o poeta: «la memoria es siempre conciencia de pérdida (recuerdo lo que
ya no tengo o lo que ya no es); conciencia, por tanto, de consunción del tiempo
correspondiente a mi vida y, por esto mismo, conciencia de ir hacia la
muerte»[17].
Se a memória, por ser consciência de perda, activa em nós a percepção de irmos
em direcção à morte, ela é responsável ao mesmo tempo e por essa mesma razão
pela consciência de sermos intrinsecamente constituídos por esquecimento:
diante do espelho da morte reflectimos tudo o que perdemos, tudo o que deixámos
de ser, tudo o que votámos e nos votou ao esquecimento, isto é, tudo o que já
não existe e jamais voltará a existir. Daí precisamente que o vocábulo olvido
seja um dos vocábulos mais recorrentes na poesia de Antonio Gamoneda, ou que
ele circunscreva a sua poesia a territórios delimitados por símbolos como o do frio
ou como o da luminosidade branca sem objecto onde incida:
«Amé las desapariciones y ahora el último rostro ha
salido de mí.
He atravesado las cortinas blancas:
ya sólo
hay luz dentro de mis ojos.»[18]
Ou, mais revelador ainda, esta frase retirada da
introdução ao livro onde relata as memórias da sua infância, Un armario
lleno de sombra: «En el olvido están los recuerdos»[19].
Temos, pois, que a poesia
enquadra a amplitude do nosso ser no espelho branco da morte, reflectindo não
bem a súmula das nossas experiências, mas activando em nós a consciência
dolorosa de nos estarmos a afastar irremediavelmente do tempo sagrado das
nossas vidas em direcção a um tempo sem tempo e todo irradiação sem referência
para as nossas coordenadas. Sabemos então quem fomos e aterramo-nos por
estarmos progressivamente a deixar de o ser. Mas essa consciência agónica é,
tanto para Antonio Gamoneda como para Vergílio Ferreira, o expediente que temos
à nossa disposição para procedermos a uma revalorização da vida[20]
que a reintegre na assunção do milagre que é o simples facto de a vida nos ter
acontecido.
É através dessa assunção operada, quer pela poesia, entendida em sentido
restrito como acto existencial por excelência, quer por outras formas de aceder
a um aprofundamento da existência, como a experiência da aparição de nós a nós próprios, que se processa a transmutação da
consciência agónica que a irredutibilidade da morte faz nascer em nós em alguma
coisa que implica uma forma muito particular de prazer. Antonio Gamoneda é
contundente a esse nível: «La poesía
es consolación, es liberación, es transformación del sufrimiento en algo que
conlleva placer. (…) Es una transmutación tremenda»[21]; e,
mais à frente, noutra entrevista reunida na colecção de entrevistas que temos
vindo a citar: «La poesía existe porque sabemos que vamos a morir (…). (…)
cuando la conciencia y el miedo mortal se intepenetran con la poesía, tal
conciencia y tal miedo son indisociables de una forma de placer»[22].
Trata-se de uma certa aparência de lucidez que proporciona ao ser humano talvez
o mais alto a que a sua vida aspira, sabendo que não pode aspirar a vencer a
morte. É por isso que Gamoneda pode dizer num verso tão límpido quanto
terrífico de Descripción de la mentira: «Yo, en los manjares prévios a
la muerte, hallo mi lucidez»[23]; ou
ainda que formule em Ardén las pérdidas a expressão tão paradoxal quanto
evidente: «lucidez sin esperanza»[24]; ou,
por fim, que diga numa verso de Canción Errónea: «Sé / feliz sin
esperanza»[25].
Felicidade sem esperança,
encontro do lado de cá com a breve fulguração, ou antes, para usar o título
certeiro de Vergílio Ferreira, com a alegria breve da existência sem
mais nada a explicá-la, esta mentira extraordinária – outra palavra recorrente
na poesia de Gamoneda – de vivermos até que o cansaço sobrevenha – e nos
últimos poemas de Gamoneda ele começa a sobrevir – e exponha «un antíguo
extravio: / ir de la inexistencia / a la inexistencia», para que enfim possamos
dizer com Antonio Gamoneda: «Ahora / he de amar mi propia muerte / y no sé
morir. // Qué equívoco»[26].
Dou por último a palavra a
Eduardo Lourenço, que num ensaio sobre a prosa de Vergílio Ferreira, que podia
muito bem ser um ensaio sobre a poesia de Antonio Gamoneda, diz supremamente,
como é seu hábito, aquilo que, titubeando, tenho tentado expor nesta
comunicação: «a morte é a vida negada, mas nessa negação a sua suprema
fulgurância. É sobre um fundo de morte que se recorta a “breve alegria” em que
Vergílio Ferreira resume, num dos seus mais perfeitos romances, a essência
mesma da aventura humana. (…) Até se pode dizer – resume o pensador português –
que é a partir do espelho da morte [sublinhado
meu] e nesse espelho que a vida se concentra e se perfaz como sentido»[27].
E
eis como o nosso corpo precário e falível se torna «corpo precário e glorioso»[28].
REFERÊNCIAS
Ferreira, Vergílio, Espaço do Invisível 2 (2.ª ed.), Lisboa,
Editorial Bertrand, 1991.
_____________, Para Sempre (14.ª ed.), Lisboa,
Editorial Bertrand, 2004.
_____________, Invocação ao meu corpo (4.ª ed.),
Lisboa, Quetzal Editores, 2011.
Gamoneda, Antonio, El
cuerpo de los símbolos, Madrid, Huerga y Fierro editores, 1997.
_______________, Un armario lleno de sombra,
Barcelona, Galaxia Gutenberg – Círculo de Lectores, 2009.
______________,
Esta luz – Poesía Reunida (1947-2004) (2.ª
ed.), Barcelona, Galaxia Gutenberg – Círuclo de Lectores, 2010.
______________,
Canción Errónea, Barcelona, Tusquet
Editores, 2012.
______________,
Fonación, palabra y escritura,
pensamiento poético, Galicia, Editorial Trifolium, 2013.
Lourenço,
Eduardo, O Canto do Signo – Existência e
Literatura (1957-1993), Lisboa, Editorial Presença, 1993.
Palomo,
Carmen (ed.), El Lugar de la Reunión –
Conversaciones com Antonio Gamoneda, Burgos, Editorial Dossoles, 2007.
[1] Ferreira:
2011. 22.
[2]
Gamoneda: 1997, 10.
[3] Título
do estudo que Vergílio Ferreira dedicou ao seu congénere Malraux.
[4] Palomo,
145-6.
[5] Ibidem, 151.
[6] Gamoneda:
2010, 177.
[7]
Para aquilatarmos a verdade desta
asserção basta pensarmos na forma como os bebés reagem à música; tema, de
resto, desenvolvido por Antonio Gamoneda no opúsculo de 2013, Fonación,
palabra y escritura, pensamiento poético.
[8] Gamoneda:
1997, 11.
[9] Palomo,
155.
[10] Ferreira:
2011, 69.
[11] Ferreira:
2004, 46.
[12] Palomo,
24.
[13] Ferreira:
2004, 111.
[14] Ibidem, 170.
[15]
A mais das vezes esse tu tem um
destinatário mais ou menos identificável, mas pode tratar-se também de um
desdobramento do eu enunciador, e pode muito bem ser ambas as coisas em
simultâneo (e eu creio que é frequentemente).
[16] Gamoneda :
2012, 136.
[17] Palomo,
24.
[18] Gamoneda:
2010, 407.
[19] Gamoneda:
2009, 5.
[20]
«A meditação da morte não é pois um fim, mas um meio de valorizarmos a vida (…)
meio, em suma, de encararmos a sério esse facto extraordinário que é a vida do
homem.» (Ferreira: 1991, 42.)
[21] Palomo, 20.
[22] Ibidem, 34.
[23] Gamoneda:
2010, 184.
[24] Idem, 465.
[25] Gamoneda:
2012, 51.
[26] Ibidem, 28-9.
[27] Lourenço:
1993, 101.
[28] Ibidem, 123.
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