domingo, 1 de junho de 2025

Março

Março já vai bem avançado. Somos sugados não sei para que precipício. A nossa inacção não logra deter o mundo. Pelo contrário, sem sentirmos a vertigem, tolhidos de anemia, praticamente afásicos, nem damos pela aceleração. O Inverno teima em não ceder. Tem chovido o que deve e as abertas são as esperadas. A tristeza e a solidão alastram como metástases. Sou este despropósito. Gastei os sonhos e as aspirações. Perdi as obsessões. Despromovi as paixões. Sou um ser deflaccionado. Já nada me entusiasma e já nada espero. A inteligência regrediu, a memória minguou, o palato secou. Vulgarizei-me e não sei viver vulgarmente. Estou só e não quero ninguém. Nada nem ninguém. Amanhã é outro dia. Algo prossegue subterraneamente. Je est un autre.